DEPOIMENTO DE ILONI
SOBRE O ENCONTRO DE FOZ DE IGUAÇU
VII ENEJAC – Encontro Nacional de
Ex-Jacistas – Integração Latino-Americana – 7 a 11 de novembro de 2012 – Foz do
Iguaçu
Algumas palavras sobre a
importância da experiência que vivi ao participar desse Encontro. Antes de tudo
quero agradecer a Dora, João, Zilba, Fernanda e Porfiria pela árdua tarefa de receber
e acomodar a todos, de organizar e garantir o cumprimento da programação
prevista, além de incluir demandas que foram se colocando. Parabéns pela
competência e responsabilidade, e sobretudo, pela serenidade e paciência com
que administraram um evento singular, grande e complexo.
De modo especial agradeço àqueles
que conceberam um encontro de caráter internacional - Integração
Latino-Americana - garantindo a presença de amigos, de companheiros de trabalho
e luta de longa data de diferentes países e um programa de atividades, ações e
reflexões coerentes com a dimensão proposta.Neste sentido quero registrar e
comentar alguns aspectos, que para mim, foram altamente significativos.
O breve histórico da JAC, onde
Dora apresentou as principais características e o contexto referente a cada uma
das três fases que a marcaram no decorrer de sua história: nele, a JAC surge
ligada ao projeto de evangelização da igreja apoiando suas ações e atividades,
sobretudo, litúrgicas; no segundo momento, assume uma perspectiva de promoção
humana e adota o método ver (a realidade), julgar (à luz do evangelho) e agir
(plano de ação) e, na terceira fase, caminha numa perspectiva mais transformadora,
de intervenção na realidade e de militância política. Na minha opinião, esse histórico contribuiu para que pensassemos e buscassemos situar de alguma forma a nossa participação na história do Movimento, assim como, para pensar e refletir sobre o nosso ser e estar no mundo, hoje.
A visita a Itaipu Binacional, Marco das Três Fronteiras (Brasil, Argentina, Paraguai) e Ecomuseu. Impressionou-me o gigantismo da obra que revela a capacidade do homem, a grandeza e as consequencias de sua ação de intervenção na natureza, levando-nos a pensar sobre o significado, os ganhos, os benefícios e perdas para a população dos países envolvidos. Faz-nos pensar também na reação, na situação e no futuro das populações que estão sendo desalojadas por obras similares realizadas em nome de um desenvolvimento.
No Ecomuseu tivemos acesso a
informações e dados relativos a ocupação humana na região (mais de 6 mil anos
de acordo com a pesquisa antropológica). Conhecemos objetos e cenários que
caracterizam o modo de viver, as relações com a natureza, com a vida e com a
morte (as práticas culturais e religiosas) da população nativa durante um longo
periodo histórico. A pergunta que fica: o que aconteceu com essa população,
quem são e onde estão seus remanescentes?
Integração Latino-americana –
tema título do Encontro - presente desde a fase preparatória e início do
encontro foi abordado de diferentes formas e sob diferentes aspectos: a fala
dos representantes dos países participantes sobre “Como é percebida a
integração latino-americana?”, a conferência tratando da “Integração
Latino-americana, história, avanços e desafios”, a palestra sobre “Os
Movimentos Sociais na Integração Latino-americana”, a apresentação do mapa da
America-latina por representantes dos países presentes, no momento do ofertório
durante a celebração da missa, as conversas e trocas entre os participantes e a
noite de Integração Cultural Latino-americana. Cada um desses momentos nos
trouxe muitas informações, lembranças, descobertas, questionamentos, dúvidas e
desafios.
As informações contribuiram para conhecer
um pouco mais sobre a realidade dos países e a situação do homem do campo, seus
problemas e avanços, bem como, sobre a vida, o trabalho e a atuação dos
participantes, mas mostraram, ao mesmo tempo, que ainda sabemos muito pouco se
entendemos a integração como um processo contínuo decorrente da construção de
conhecimentos, trocas e ações conjuntas. Neste sentido, ao olhar o mapa exposto
na missa e focar nos vários países que fazem fronteira com o Brasil descobri
que assim como eu, possivelmente, muitos brasileiros, pouco sabem sobre cada um
destes países, sobre a sua história, seus recursos, o seu povo e suas condições
de vida, suas lutas, sua cultura, necessidades, problemas e desafios.
A conferência de João, apresentou
um panorama geral da América Latina trazendo, além de um breve histórico,
considerações sobre a situação atual, apontando avanços, dificuldades, principais
ações e organizações que foram sendo criadas em diferentes países e entre
diferentes países latino americanos. Com isso trouxe à memória o fato de que, nas
decadas de 60 e 70 - período correspondente a nossa atuação na JAC - muitos desses
países estavam sob ditadura militar fazendo-nos lembrar de muitas perdas e de situações
dramáticas vividas por companheiros e amigos. Apresentou também um conjunto de dados
e informações relativos aos processos democráticos, que hoje, depois de mais de
quarenta anos, estão em andamento nos diferentes países, mostrando ao mesmo
tempo, a existência de dificuldades, de ganhos e de enfrentamentos, de conquistas,
avanços e retrocessos, assim como, a presença de inúmeras contradições nas
experiências democráticas em construção.
A palestra de (nome?) sobre “Os
Movimentos Sociais na Integração Latino-americana”, tratou dos interesses, em
conflito, (grandes corporações, governos, populações) pelo controle dos recursos
– America-Latina região de maior reserva de recursos do planeta –, da
necessidade de melhor conhecer as possibilidades e limites desses recursos e de
construir uma nova visão sobre as relações do homem com a natureza com a percepção
e compreensão da finitude dos recursos do planeta terra. Nesta perspectiva mencionou
a criação da UNILA (Universidade Latino-Americana) voltada para a formação de
profissionais e a produção de conhecimento sobre a região e, da qual participa
um conjunto de doze paises. Falou da necessidade de promover a integração pela
água, pelos biomas, pelos meios de produção. Falou da integração de saberes, do
diálogo de saberes para fazer frente, por exemplo, aos fenomenos da seca e do
pantanal existentes no Brasil e em outras regiões da America latina. Falou ainda
da importância de politicas públicas e de programas como a Agua Boa,
agricultura familiar, etc. que envolvam a sociedade civil, escolas, professores
e instituições – educação formal, não formal e informal - como meios para
forjar uma nova cultura e novas práticas.
Neste sentido, a apresentação e
debate (pena ter sido pouco) das quatro ecologias de Leonardo Boff – ambiental,
social, mental e integral – foi fundamental. Critica o modelo atual de inserção
do homem no mundo e propõe parametros e diretrizes para a reformulaçao
conceitual necessária a um novo tipo de entendimento e compreensão sobre o
planeta terra do qual o homem não é o dono, mas parte integrante, um dos elementos
que o constituem. Assim o vídeo, e as oportunas reflexões que ocorreram nos
momentos da mistica coordenados por Angela, trouxeram subsídios para construir
uma nova visão sobre o ser cidadão e do ser cristão no mundo hoje.
Na Mesa redonda, Magui do
Paraguai, Isabel e Mari da Argentina, Zilba e Antonia do Brasil, falaram do trabalho relativo, principalmente, a questões
de genero e direitos das mulheres que desenvolvem nos respectivos paises. Apesar das
dificuldades que enfrentam e da lentidão nos processos de mudança, os relatos
indicaram que novas práticas e novas experiências estão em andamento mostrando
que a transformação da realidade é possível.
Um dos fatos importantes do
Encontro foi o lançamento dos livros Retalhos de Vidas e História e Organização
de Jovens Camponeses Cristãos 1947-1972, cuja realização foi capitaneada,
principalmente, por Angela e Chica. Agradeço e parabenizo a elas, de modo
especial, assim como aos demais particpantes da obra, pelo esforço de registrar
a história e produzir a memória de uma experiência da qual todos nós
participamos de alguma forma.
Emocionante também foi a noite de
integração cultural latino-americana. Penso que superou o objetivo proposto.
Uma experiência concreta de integração: música, cultura, dança, alegria,
trocas, conversas, festa e muitos comes. Maravilha.
Por fim, preciso compartilhar uma
experiência emocionante que vivi durante a visita às cataratas, para mim um
grande desafio, por exigir um deslocamento nada fácil. Desci do elevador ao
mirante andando devagar de braço dado com Angela e apoiada na fortaleza chamada
Fernanda. É inesquecível e impossível descrever o cenário do entorno do
mirante. A força e o som ensurdecedor da água, nos seus diferentes níveis e
quedas, molhando a todos lentamente, o bailado no ar desenhado pelas muitas
gaivotas na garganta do diabo e bem no alto, a presença de uma bandeira
indicando tratar-se da fronteira Brasil Argentina. Ao retornar ao patamar do
elevador e apoiar-me no corrimão encontrei uma minuscula e multicolorida
borboleta batendo lentamente suas asinhas duplas, de tamanhos sobrepostos, e
cores distintas. Quem é você, deu-me vontade de perguntar. Impressionou-me
profundamente, encontrar aquela criaturinha, naquele lugar úmido, a abundância
da água, a exuberância da floresta. Senti-me pequena naquela imensidão da
natureza em festa, mas muitíssimo feliz por poder sentir essa emoção e perceber
a presença de uma força superior. Deus existe… Obrigada Angela e Fernanda.Foi
muito bom rever pessoas que há muito tempo não encontrava e conhecer outras
tantas. Todos os presentes contribuiram de alguma forma para tornar o VII
ENEJAC, concebido e organizado tal como foi, uma experiência rica, afetiva,
instigadora e motivadora de novos pensares e fazeres.
Iloni
Seibel