segunda-feira, 29 de outubro de 2012

URGENTE! COMUNICADO COM AS ÚLTIMAS INFORMAÇÕES SOBRE O VII ENEJAC

Queridos/as Amigos/as!
Nosso encontro se aproxima!
Poucos dias mais e estaremos nos abraçando e celebrando juntos a vida! Porque, como diz o Zé Alaí, será também "um encontro de amigos que se querem muito bem".
E o que é querer-se bem? O poeta Ricardo Leis escreve que:
"O que é o amor? É compartilhar. E busca de um sol limpo e uma humanidade fresca. É uma ideia transparente. É um pensamento planetário.É entrega.
O que é o homem? Alguém que há que construir. Erigindo-o com JUSTIÇA E O AMOR. Para fazê-lo PAZ.
O que faremos nós? Vem! Busquemos com a luz comunidade e uma grande inquietude até nas marcas digitais. Inmersos no mundo e empurrando o devir. Nos toca o amanhã. Comecemos já!"
Animados em nossa fé, porque "Sem fé, como tomar o arado e cravar o sulco na terra? Como levantar-se e encher todo de luz?"
E assim, com estes questionamentos sobre o que é o amor, o que é o homem, o que faremos nós, animados em nossa fé, é que estamos chegando ao final de um longo tempo de preparação, que começou ainda em novembro de 2011. Foram meses em que cada um/a de vocês esteve de alguma forma presente em nossas vidas e preocupações.
Estamos fazendo o maior esforço para que tudo dê certo em nosso encontro. Assim como, em cada um dos encontros já realizados, cada equipe organizadora deu o melhor de sí para receber-nos, trataremos de acolher com tanto carinho como o recebido sempre dos/as amigos/as nordestinos/as, procurando fazer de cada dia um momento de encontro, alegria e partilha.
E para que tudo dê certo, aproveitamos a mensagem para encaminhar as informações solicitadas por vários/as participantes:
Hospedagem:
O período da ocupação do Hotel Carimã será:
do dia 07 de novembro de 2012 a partir das 15:00h
até 11 de novembro 2012, com check-out até as 12:00h.
Acomodações:
O contrato firmado com o Hotel prevê acomodações emquartos duplos ou triplos.
Pacotes:
Os valores dos pacotes incluem:
- café da manhã servido em nosso restaurante, das 7h as 10h,
- almoço com 1 (uma) bebida não alcoólica servido no restaurante das 12h às 15h,
- coffee break,
- jantar com 1 (uma) bebida não alcoólica servido no restaurante das 19h às 23h.
- traslado de chegada e saída (aeroporto ou Rodoviária de Foz do Iguaçu),
- traslado para as Cataratas Brasileiras, Parque das Aves, Itaipu Binacional,Museio de Itaipu e Marco das Tres Fronteiras, com guia.
Os valores dos pacotes não incluem:
- valores dos ingressos dos pontos turísticos, que devem ser adquiridos à parte
- a organização do VII ENEJAC fará o pagamento dos valores dos ingressos
ATENÇÃO - Horário de Verão:
Traslados ida-e-volta do aeroporto / rodoviária:
Com a mudança da hora em alguns dos estados brasileiros, inclusive Paraná, sede do encontro, favor verificar novamente os horários de saída e chegada dos vôos com a empresa aérea ou agência de viagem.
Ainda, necessitamos que cada participante do VII ENEJAC, envie as seguintes informações:
- horários de chegada no aeroporto / rodoviária de Foz do Iguaçu, no dia 7 de novembro
- horário de saída do aeroporto / rodoviária de Foz do Iguaçu, no dia 11 de novembro
- número de vôo e nome da empresa aérea ou nome da empresa de ônibus
Tais informações deverão ser enviadas para os endereços dora.ms@terra.com.br e porfiriablanco@yahoo.com.br, até dia 30 de outubro, para que possamos encaminhar para a empresa que prestará o serviço de traslado de chegada e saída.
Isso é uma exigência da empresa para disponibilizar o transporte.
Endereço do Hotel:
Hotel Carimã
Avenida das Cataratas, KM 10 - Telefone: (45) 35213050
Pra lembrar:
Sugerimos levar alguns itens de uso pessoal, como: levar agasalho (o tempo em Foz está muito variavel), repelente, chapéu, protetor solar, guarda-chuva...
Noite cultural:
Fica a critério de cada estado ou país fazer a apresentação que desejar.
A organização contactou com dois músicos paraguaios que farão apresentação com harpa, durante uma hora, podendo intercalar essa apresentação com outras.
Livros sobre a JAC:
Queremos informar que o livro da história da JAC está pronto!
A Ângela pede que cada interessado/a em adquirir o livro envie solicitação de quantos exemplares quer adquirir ao endereço dora.ms@terra.com.br. O preço do livro é de R$ 20 reais, cada um. Aos que solicitarem, o pedido será entregue no encontro.
Há um segundo livro que está sendo feito pela Chica, com a recopilação de todos os depoimentos, e que também estará a venda no encontro. E, seria bom também dizer quantos vão querer.
Representantes:
Pedimos a cada estado que indique um representante para fins de organização.
O representante terá a função de apresentar os demais participantes do seu estado, na primeira noite, dizendo o nome e o cargo que ocupou no movimento.
Além disso, propomos que esta pessoa seja o elo de comunicação entre a organização e os/as participantes, dado que seremos quase 90 pessoas e o encontro será bilingue!
Acreditamos ter respondido a todos os questionamentos e esperamos que nos informem prontamente sobre os horários das passagens e sobre o número de livros que cada um necessita, conforme explicado acima.
Um forte abraço,
Equipe de organização do VII ENEJAC

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Surpresa: duas derrotas dos EUA na América do Sul

Por: admin - 15/10/2012.
Print Friendly

Celson Amorin, ministro da Defesa brasileiro, observa Leon Panetta, chefe do Pentágono: sem concessões

Conferência dos ministros de Defesa rechaça planos de Washington. E a Venezuela caminha para parceria estratégica com a China
Por Raúl Zibechi, Programa de las Américas | Tradução: Vila Vudu
Em menos de uma semana, a política dos EUA para a América Latina sofreu duas derrotas, em dois temas estreitamente associados: a vitória eleitoral de Hugo Chávez e o fracasso na tentativa de impor os critérios do Pentágono na X Conferência de Ministros de Defesa.
Venezuela: eleição decisiva
Poucas vezes alguma eleição dividiu a região de modo tão nítido como a do dia 7 de outubro, na Venezuela. Tanto os governantes como boa parte da população sabiam que do resultado dependiam não só a continuidade do processo bolivariano, mas, também, o aprofundamento da integração regional, a ampliação do Mercosul e, provavelmente as relações pacíficas entre os vizinhos.
“Das 92 eleições que monitoramos, eu diria que o processo eleitoral na Venezuela é o melhor do mundo”, disse Jimmy Carter, dia 11/9, ao celebrar os 30 anos do Carter Center [1]. Dias antes das eleições, em Caracas, o embaixador dos EUA Patrick Duddy sugeriu que, se o pleito fosse “aceitavelmente livre e justo”, seu país deveria “resetar” as relações bilaterais, com vistas a uma eventual renovação de comunicações de alto nível em áreas de interesse mútuo” [2].
Houve reações esperadas e outras quase surpreendentes. O fervor de Cristina Kirschner, presidenta argentina, e a cálida felicitação do colombiano Juan Manuel Santos eram esperados. O chanceler chileno Alfredo Moreno, membro do governo conservador de Sebastián Piñera, destacou que as eleições venezuelanas foram um “exercício democrático impecável”. O porta-voz do Departamento de Estado, William Ostick, felicitou “o povo venezuelano”, mas não o presidente, e conclamou o vencedor a levar em conta “as mais de 6 milhões de pessoas que votaram pela oposição”. A União Europeia disse mais ou menos o mesmo [3].
A oposição aceitou o resultado e ninguém falou em fraude, motivo pelo qual houve quem supusesse que Washington tivesse modificado sua habitual hostilidade contra o governo Hugo Chávez[1]. Nada disso. No mesmo dia, o secretário de Defesa dos EUA, Leon Panetta, partia para seu segundo giro pela região, dessa vez ao Peru e ao Uruguai, levando debaixo do braço um documento de 12 páginas, “A Política de Defesa para o Hemisfério Ocidental” que o Departamento de Defesa dos EUA havia divulgado na 4ª-feira, 3/10[2].
China: da cautela à euforia
Com a vitória de Chávez, o primeiro inimigo estratégico dos EUA consolida sua presença na região. O papel da China na Venezuela é chave. O intercâmbio comercial bilateral passou de 1,9 bilhão, para 10,272 bilhões de dólares, o que fez da China o principal parceiro comercial de Caracas. Beijing aportou 52 bilhões de dólares em “fundos de financiamento conjunto” à Venezuela, a qual paga com petróleo, à razão de 640 mil barris/dia [4].
Para 2014, a sucateada indústria petroleira venezuelana espera produzir 4 milhões de barris diários, dos quais 1 milhão serão exportados para a China. No final de novembro passado, os presidentes de Venezuela e Colômbia assinaram vários acordos de cooperação, entre os quais o Projeto Binacional Oleoduto Venezuela-Colômbia, para exportar 500 mil barris de cru diários pela costa do Pacífico até a China, que seria o “sócio estratégico” num projeto que prevê investimento de 8 bilhões de dólares [5].
A Venezuela vem reorientando suas exportações de petróleo, que representam 90% de suas exportações totais. Em 1999, quando Chávez assumiu a presidência, os EUA compraram do país 1,5 milhões de barris/dia, cifra que caiu para 764 mil barris/dia em novembro de 2011, a menor em nove anos [6]. Como se pode ver, o mercado chinês está progressivamente substituindo o mercado norte-americano.
Dia 16/9/2010 assinou-se um acordo entre os governos de Venezuela e China sobre cooperação para financiamento em longo prazo. Chávez disse que o volume do investimento chinês na Venezuela é o maior de toda a história dos 60 anos da República Popular e concluiu: “Todo o petróleo de que a China possa necessitar para consolidar-se como grande potência, encontrará na Venezuela” [7]. Vale lembrar que as reservas venezuelanas de petróleo já ultrapassaram as da Arábia Saudita e são hoje as maiores do mundo.
Mas nem tudo é petróleo. A China tem 430 projetos de desenvolvimento na Venezuela, em setores de eletricidade, transporte, mineração, moradias, finanças, gás, petróleo e petroquímica. Está contribuindo para o desenvolvimento das vias férreas, e há 50 projetos para exploração de alumínio, bauxita, carvão, ferro e ouro [8]. A cooperação binacional intensificou-se nos últimos cinco anos. Desde 2007, o Banco de Desenvolvimento da China emprestou 42 bilhões de dólares à Venezuela, 23% de todos os empréstimos internacionais do banco estatal chinês e praticamente o dobro de tudo que os EUA investiram, entre 2003 e 2006, para reconstruir o Iraque (29 bilhões) [9].
Sem dúvida, o dinheiro chinês é fundamental para a economia de um país que quase não recebe investimentos estrangeiros diretos. Mesmo os investimentos chineses chegaram devagar: só 240 milhões de dólares entre 1990 e 2009 [10]. Talvez por essa razão, o governo chinês, que manifestara certa cautela nas semanas que antecederam a reeleição, não escondeu seu entusiasmo com os resultados, com Chávez reeleito para mais seis anos, e prometeu conduzir as relações entre os dois países “para um novo nível” [11].
Dinheiro novo, em troca de petróleo
A Venezuela paga a metade dos juros de mercado (6%, não 12%) e com esse dinheiro pode planejar obras como as 33 mil moradias que a empresa Citic constrói na China e atender aos crescentes investimentos do Estado. Em troca, Chávez oferece aos chineses participação na exploração do petróleo pesado da Faixa do Orinoco e no projeto das minas Las Cristinas, das maiores reservas de ouro do mundo [12]. Também assinou com a empresa Citic um acordo para mapear todas as jazidas minerais do país [13].
Graças à cooperação chinesa, a Venezuela já pôs em órbita dois satélites; o primeiro “Simón Bolívar”, em 2008, atende as telecomunicações; e o “Miranda”, em 2012, que será usado no planejamento urbano, em operações militares e na luta contra exploração ilegal de minas e plantios ilegais. Segundo o governo Chávez, os satélites permitirão “planejar a ocupação do território, cuidar melhor do meio ambiente, de nossas fronteiras, de nossos recursos naturais e de nosso povo” [14].
As relações com a Rússia também serão fortalecidas, mas são vínculos basicamente diplomáticos e militares. A indústria de armamentos russa está incrementando suas exportações, embora continue muito atrás da norte-americana. Entre 2012 e 2015, o principal comprador de armas russas será novamente a Índia, com 14 bilhões de dólares; mas a Venezuela já aparecerá em 2º lugar, deslocando assim a Argélia e a China, com compras projetadas de 3,2 bilhões de dólares segundo Ígor Korotchenko, diretor do Centro de Análise do Comércio Mundial de Armas [15].
A segunda viagem de Leon Panettta
Dia 7 de outubro, antes que se abrissem as urnas na Venezuela, o secretário de Defesa dos EUA Leon Panetta iniciou seu segundo giro pela região em apenas cinco meses [16]. Dessa vez veio armado com um documento de 12 páginas, “A Política de Defesa para o Hemisfério Ocidental” [17]. O texto é continuação do que foi elaborado em janeiro sobre as prioridades para a Defesa. Nos dois documentos, o objetivo é “manter a liderança mundial dos EUA”.
A política desenhada pelo Pentágono e pela Casa Branca para a região leva em conta dois novos fatos: as mudanças no mundo, entre as quais o novo papel da América do Sul, e o que lá se chama “a limitação de recursos”, como consequência do endividamento e da crise econômica que impõem restrições no orçamento militar.
Em consequência, o Pentágono já não pretende que seu principal modo de operar continue a ser o deslocamento militar direto na região; espera manter sua “liderança” mediante “enfoques inovadores, econômicos e praticamente sem ter de pôr os pés fora de casa. E espera, para conseguir isso, obter “esforços de cooperação” para “alianças bilaterais e regionais” à base do que entende que sejam “interesses comuns de segurança” [18].
Como os EUA encontram-se num “ponto estratégico de inflexão” pelo qual suas forças de concentrarão no Pacífico Asiático, trata-se, na América Latina, de encontrar “sócios” que se convertam em “exportadores de segurança”. O documento cita dois casos: o da Colômbia, cujas forças de segurança partilham “conhecimentos técnicos nos campos da aviação, antissequestro e luta contra o narcotráfico”, e o de San Salvador cujos “capacitadores” trabalham no Afeganistão e no Iraque. (São algumas das consequências ou sucessos do “Plan Colombia”, aspectos que Panetta não menciona.)
Com base nessas alianças, o Pentágono defende que “começa a aflorar uma rede interconectada: um sistema de cooperação para a defesa”, a partir de alianças “flexíveis e ágeis, capazes de responder aos desejos do país amigo e de mudar conforme aumenta a capacidade das forças militares dos países”.
Mas, apesar das aparentes boas intenções, os objetivos e os meios serão unilateralmente definidos pelo Departamento do Defesa. “As ameaças atuais à estabilidade e à paz regionais emanam da difusão do narcotráfico e outras formas de tráficos ilícitos, agitações e terrorismo, cujos efeitos podem resultar em acentuados desastres naturais e por uma oportunidade econômica desigual”. E acrescenta às ameaças atuais também a “novas ameaças no ciberespaço.”
Apesar de propor alianças “inovadoras”, o documento ainda aposta no que denomina “instituições de defesa maduras e profissionais” – entre as quais a Conferência de Ministros de Defesa das Américas que se faz a cada dois anos e a Junta Interamericana de Defesa (JID), no marco da OEA.
Panetta divulgou o documento pouco antes de participar da X Conferência, aberta na 2ª-feira, 8/10 em Punta del Este, Uruguai.
Como assinalou o analista argentino Horacio Verbitsky, o documento de Panetta “utiliza indistintamente “segurança” e “defesa” – o que não está sendo bem visto por boa parte dos países sul-americanos [19]. Verbitsky recorda que o Mercosul “rejeita o conceito de desastre natural, que substituiu por desastre socionatural”, o que pressupõe entender esses desastres como situação complexa e sobre tudo só agir no caso de haver pedido expresso “não entre forças armadas, mas pedido feito pelo governo do país afetado”.
A proposta do Pentágono
A proposta feita pelo Pentágono através do Chile, um dos sócios destacados na região, consiste em que as forças armadas coordenem as respostas aos “desastres”, acrescentando que, nessas “respostas” devem usar “unidades ou meios que tenham capacidade mínima de sete dias de operação com autossuficiência”.
Esse parágrafo alarmou várias chancelarias, entre elas a Argentina, dado que a maioria dos países da região não têm a tal capacidade “técnica”, o que deixaria o Pentágono na posição de único protagonista, como já aconteceu no caso do terremoto no Haiti em janeiro de 2010.
Por outro lado, para o mesmo Verbitsky, “os EUA tentam reformular a Junta Interamericana de Defesa (JID), para não perder uma ferramenta de controle sobre as forças armadas e de segurança na região”.
Vários países questionam a vigência das instituições multilaterais hemisféricas de defesa criadas durante a Guerra Fria, entre elas o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR), criado em 1947. O mesmo se pode dizer da Junta Interamericana de Defesa (JID), entidade criada pela OEA, constituída em 1942.
O fracasso da “diplomacia militar” dos EUA
Sinal dos novos tempos, vários países da Aliança Bolivariana da Américas (ALBA) chegaram à X Conferência de Ministros de Defesa, esse mês, depois de terem decidido, em junho passado, separar-se da TIAR, que entendem já ferida de morte depois do conflito das Malvinas, em 1982 – quando os EUA apoiaram a Inglaterra, potência extra-hemisférica, e não apoiaram a Argentina [20]. Trata-se aqui de Venezuela, Bolívia, Equador e Nicarágua.
Somam-se a esses países as reticências de Brasil e Uruguai, contra a JID. O ministro uruguaio de Defesa, Eleuterio Fernández Huidobro, disse em seu discurso na Conferência de Ministros que a JID tem 70 anos, que está “velha”, que nasceu quando, no mundo “aconteciam coisas muito feias” [21]. Acrescentou que a desigualdade “é o grande problema que subjaz ou sobrevoa todos os outros problemas” e que “nem todos os militares do mundo algum dia darão conta de resolvê-lo”. E disparou:
“Durante esses anos, sofremos a ação de organizações criminosas internacionais piores que as do tráfico de drogas, armas e terrorismo. Falo, em boa parte, do sistema financeiro internacional que, mediante saques, assaltos, batendo carteiras e com roubos de todos os tipos provocou estragos até nos países mais ricos do mundo, mas, sobretudo entre as populações daqueles países. E, esses, andam pelo mundo soltos, um bando de criminosos transnacionais altamente perigosos que não podem ser excluídos de nossa lista de ameaças e riscos”.
Panetta ouviu em silêncio.
Mas a intervenção que mais bem refletiu o clima na região foi a do ex-chanceler do Brasil, atual ministro da Defesa, Celso Amorim. Sua fala foi a primeira na Conferência de Punta del Este. Disse que:
“Um sistema interamericano de Defesa como foi pensado imediatamente depois da 2ª Guerra Mundial é coisa que já nada tem a ver com o mundo de hoje, mundo multipolar, onde não há ameaça única nem continentes homogêneos” [22][3].
Defendeu a cooperação em temas de saúde, defesa e desastres naturais, mas “sempre que haja autoridades civis à frente”. E fez mais: questionou o papel das potências no Oriente Médio, a composição do Conselho de Segurança da ONU, disse que a prioridade do Brasil é a Unasul e o Conselho de Defesa Sul-Americano, apoiou a defesa da soberania argentina sobre as ilhas Malvinas, defendeu um Atlântico Sul livre de armas nucleares e ainda acrescentou:
“Nosso problema não é de proliferação: é de desarmamento. Que as grandes potências desmontem todos os seus arsenais nucleares.”
Tudo isso, em apenas 22 minutos!
Os 29 países que participaram da Conferência de Ministros da Defesa discutiram durante 48 horas os temos do documento final. Aprovaram a criação de um Sistema Cooperativo de assistência humanitária de caráter voluntário “que respeitará a legislação de cada país e cuja coordenação e direção ficarão a cargo das autoridades civis” – como explicou o ministro argentino de Defesa, Andrés Allamand.
Argentina, Brasil, Bolívia, Equador, Nicarágua, Surinam e Venezuela votaram contra os termos do documento final; Guyana e Uruguai abstiveram-se. “Foi a primeira vez, na história desse fórum continental, que se realiza desde 1995, que foi preciso votar, ante a falsa de consenso” (AFP, 10/10/2012).
A declaração final da X Conferência de Ministros de Defesa não acolhe as principais inquietações do Pentágono – principalmente a intenção de fazer acordos diretamente com as forças armadas de cada país, sem considerar os governos políticos, que tem sido criticada como uma modalidade de “diplomacia militar”.
Bem diferente disso, a Declaração de Punta del Este “inclui o respaldo aos direitos soberanos da Argentina sobre as ilhas Malvinas” (item inicialmente rechaçado pelo Canadá e EUA) e recomenda muito vagamente que se continue e estudar o “sistema interamericano de Defesa”. Os países da Unasul, exceto Chile e Colômbia, que apoiaram a Argentina em outros termos, “manifestaram sua preocupação com a crescente militarização do Atlântico Sul e com exercícios armamentistas que se realizam nas ilhas Malvinas”[23].
O que os países latino-americanos rechaçam cada dia mais claramente é o estilo do Pentágono de manter relações diretas “militares-militares” só com as forças armadas de cada país, desconsiderando os governos – exatamente o que sempre fez a Junta Interamericana de Defesa (JID) e faz agora o Comando Sul. O relato de Verbitsky sobre como funciona o Grupo Militar dos Estados Unidos na Argentina, o qual, durante décadas, manteve escritórios e gabinetes em instalações do exército argentino, numa “interação horizontal e direta só com as forças armadas, sem pedir autorização e sequer sem informar o Ministério da Defesa argentino”[24], ilustra um modo de operar que já não é aceito, na nova correlação de forças.
A continuidade do processo bolivariano e talvez o aprofundamento nos anos futuros potencializarão a crescente autonomia política, econômica e militar da região em relação aos EUA.
NOTAS
[1] Citado por Mark Weisbrot, The Guardian, 3/10/2012. Ouve-se a conferência completa em http://cartercenter.org/news/ multimedia/Conversations/30- years-of-the-carter-center. html Em 44’, a referência à Venezuela.
[2] Citado por Clovis Rossi, Folha de São Paulo, 9/10/2012.
[3] “EEUU no felicita a Chávez pro valora votación de la oposición”, AFP, 8/10/2012.
[4] Agência Xinghua, 27/9/2012.
[5] Radio Caracol, 19/5/2012 en http://www.caracol.com.co/ noticias/economia/venezuela- dice-que-oleoducto-con- colombia-transportara-500000- barriles-dia/20120519/nota/ 1690890.aspx
[6] Associated Press, 2/2/2012
[7] La Jornada, 26/9/2010
[8] Idem.
[9] “China financia Chávez, em troca de petróleo, e ajuda na sua reeleição”, Valor, 1/10/2012.
[10] “China, no tan cerca como busca Chávez”, La Nación, 7/10/2012.
[11] Agencia Telam, 8/10/2012.
[12] Valor, 1/10/2012.
[13] http://www.delglobo.com/index. php?option=com_k2&view=item& id=4475:venezuela-y-china- acuerdan-explotación-de-oro- en-las-cristinas&Itemid=7
[14] El Universal, 29/9/2012, en http://www.eluniversal.com.mx/ notas/873531.html
[15] Gazeta Russa, 9/10/2012.
[16] Sobre a primeira visita, ver Raúl Zibechi, “El Pentágono busca recuperar la iniciativa en Sudamérica”, en http://www.cipamericas.org/es/ archives/6866
[17] www.defense.gov/news/WHDPS- Spanish.pdf
[18] Todas as citações são extraídas do Documento do Departamento de Defesa.
[19] Página 12, 8/10/2012.
[20] “Continente debatirá pertinencia del sistema interamericano de defensa”, AFP, 6/10/2012.
[21] El País, 9/10/2012.
[22] “Multiplicidad de percepciones impide sistema continental de defensa”, AFP, 8/10/2012.
[23] http://www.presidencia.gub.uy/ wps/wcm/connect/Presidencia/ PortalPresidencia/ Comunicacion/ comunicacionNoticias/ declaracion-final-x- conferencia
[24] “Las cartas sobre la mesa”, Página 12, 30/9/2012.



* Fontes: Agência Xinghua, “Relaciones con Mercosur y China marcarán próximos seis años de Venezuela”, 27/9/2012 / Departament of Defense, “La política de Defensa para el Hemisferio Occidental, out. 2012 / Horacio Verbitsky, “Los nuevos desafíos”, Página 12, 8/10/2012 / Mark Weisbrot, “Why the US demonises Venezuela’s democracy”, The Guardian, 3/10/2012.
[1] A revista Carta Capital, São Paulo, 17/10/2012, ano XVIII, n. 719, em matéria de Claudia Jardim, de Caracas, tem outra explicação para Capriles não ter contestado o resultado: “O opositor Capriles aceitou a derrota, de olho na disputa dos governos estaduais em dezembro” (p. 41) [NTs].
[2] Sobre a viagem de Panetta, ver também “Depois do Afeganistão, os EUA mudam-se para a América Latina”, 6/12/2012, Stop NATO, em http://redecastorphoto. blogspot.com.br/2012/10/ depois-do-afeganistao-o- pentagono-muda.html [NTs]
[3] 14/10/2012, Intervenção do Ministro da Defesa do Brasil, Celso Amorim, na X Conferência dos Ministros de Defesa das Américas http://redecastorphoto. blogspot.com.br/2012/10/ intervencao-do-ministro-da- defesa-celso.html

As eleições venezuelanas e o debate econômico na América do Sul

Nossa região tem que continuar produzindo para esse mundo capitalista em crise, ou gerar condições para uma ruptura no plano da economia e da produção? O triunfo eleitoral de Hugo Chávez na recente disputa presidencial na Venezuela propicia um aprofundamento do debate sobre as mudanças econômicas atualmente em curso na América do Sul, seu rumo e seus beneficiários. O artigo é de Julio C. Gambina

La Paz - O triunfo eleitoral de Hugo Chávez nas recentes eleições presidenciais na Venezuela propicia um debate sobre as mudanças econômicas, seu rumo e seus beneficiários.

Ficou muito claro na campanha eleitoral e no balanço do resultado, as opiniões favoráveis ao rumo da revolução bolivariana e suas críticas, inclusive para além da Venezuela. Quase podemos mencionar o episódio como um acontecimento mundial. O resultado não significava a mesma coisa, para uns e para outros.

A derrota do chavismo representaria uma esperança para as classes dominantes locais, regionais e mundiais para reintroduzir a Venezuela e seu petróleo na lógica de acumulação e de dominação imperialista. Enfatizo isso porque, embora siga vendendo petróleo aos Estados Unidos em grandes quantidades, o regime atual de Caracas não se subordina à lógica de dominação global dos EUA, mas sim a confronta.

Por outro lado, o triunfo bolivariano outorga novos ares ao rumo das mudanças na região. No dia 12 de outubro, Evo Morales, presidente do Estado Plurinacional da Bolívia, denunciando o 12 de outubro de 1492, trouxe à tona a realidade do presente e assinalou que hoje “ter relações com a Embaixada dos Estados Unidos é uma porcaria”. A resposta do poder mundial não demorou, dentro e fora da Bolívia.

Da mudança política à mudança econômica
A nossa América em processo de “mudança política” necessita, além de consolidá-lo (no sentido afirmado por estas eleições venezuelanas), avançar na direção da “mudança econômica”, ou seja, na direção do Socialismo do Século XXI proposto pela Venezuela, ou o Socialismo Comunitário sustentado pela Bolívia.

Não se trata somente de decisões nacionais desses países, mas sim da capacidade da região de liquidar a herança neoliberal da institucionalidade gestada nos anos 80 e 90. Claro que alguns imaginam que se pode criticar e enfrentar o neoliberalismo desde o capitalismo. É parte das ilusões que sustentam a independência dentro do capitalismo.

Tanto a Venezuela como a Bolívia se propõe a tarefa do trânsito do capitalismo para o socialismo, cada um com seus adjetivos, que reportam sua história e tradições, mas coincidentes no rumo da transição ao socialismo. Isso supõe desarmar os vínculos estruturais da ordem social vigente no interior dos países e em suas relações com os demais, o que impacta o processo de integração regional.

Recentemente o Equador foi demandado pelo CIADI (Centro Internacional para Arbitragem de Disputas) para cumprir com uma sentença ante a demanda de uma transnacional. Uma coisa será a luta solitária do Equador ante o CIADI, outra, a ativa solidariedade dos países da região.

Tanto Bolívia, como Venezuela e Equador, se retiraram do CIADI. O Brasil nunca assinou o protocolo de adesão, com o que surge o questionamento sobre a legitimidade outorgada a esse âmbito da dominação de outros países, os que continuam subordinados à lógica da defesa das transnacionais que opera no CIADI e em seu mentor, o Banco Mundial.

Trata-se de organizar a transição em dois trilhos simultâneos, o nacional e o regional, como forma de discutir e disputar, desde a região, a ordem mundial.

Em nível nacional é preciso desarticular o poder das transnacionais, organicamente articuladas com o poder econômico local, seja o tradicional oligárquico, seja o burguês moderno ou o especulativo.

É curioso, por exemplo, para o caso argentino, o fortalecimento do setor bancário, com excedentes que o afastam da crise de 2001 e o projetam no presente como um dos empreendimentos com maior rentabilidade. De onde sai essa renda? Não estará associada ao usurário a margem entre taxas passivas e ativas, as custosas taxas dos serviços cobrados dos clientes do sistema bancário?

Em rigor, só responde à lógica da ganância no capitalismo, e o crescente crescimento do setor bancário, mais que favorecer o usuário do serviço financeiro, é uma forma de extensão do negócio bancário.

Convenhamos que transitar pela mudança econômica supõe enfrentar o poder local e mundial. Não é nem será simples enfrentar esse poder, mas a primeira decisão é assumir o custo do enfrentamento, o que requer gerar um consenso social em torno dessas transformações. É preciso construir um sujeito econômico para essa tarefa e a autoconsciência desse sujeito para a transição.

Aprender com as experiências
A experiência boliviana pode ajudar na região. Sua concepção constitucional de economia plural evidencia a presença de distintas formas de organizar a economia, via empresa privada capitalista, pública estatal, comunitária e social cooperativa, podendo encarar processos mistos.

A hegemonia atual na economia boliviana é a capitalista, mas a análise dos orçamentos públicos dos últimos anos, na gestão de Evo Morales, dá conta de uma tendência de crescimento do setor estatal, incursionando na criação e no fortalecimento de empresas públicas. É certo que nem sempre com os melhores resultados, mas pode contar a favor do processo boliviano a escassa tradição do Estado na estruturação de empresas produtivas ou de serviços.

O objetivo explicitado pelo governo plurinacional é modificar a hegemonia na economia plural, o que supõe aplicar políticas favoráveis ao desenvolvimento do setor estatal, do comunitário e do social cooperativo, desestimulando a lógica de privilégio para o setor capitalista.

Um problema na Bolívia, assim como em outros países da região, é a tentação de uma inserção internacional mediante a venda de recursos naturais. Na agenda patriótica formulada pelo presidente boliviano em agosto passado se enfatiza a necessidade de superar a primarização da economia, via
industrialização dos recursos naturais.

Essa agenda se complementa com a superação da pobreza extrema, a segurança alimentar com soberania, a satisfação universal dos serviços sociais para o conjunto da população e o desenvolvimento tecnológico, imprescindível para o processo de emancipação.

A disputa é grande nesse processo e o próprio setor empresarial hegemônico demanda ser parte da discussão da agenda sustentada até 2025,
ano do bicentenário da Bolívia.

Toda a região deve estudar os processos de mudança, especialmente aqueles com maior disposição para confrontar com as hegemônicas relações sociais de produção capitalistas.

O definidor é o sujeito econômico
Isso supõe o desafio de construir sujeito, por meio do socialismo comunitário na Bolívia, e com a especificidade de cada construção nacional, mas completando o acumulado em sujeito político popular com sujeitos atuando no processo econômico e especialmente produtivo. No caso boliviano são os indígenas, povos originários e campesinos, os trabalhadores, os cooperativistas, os micro e pequenos, médios e grandes empresários associados ao projeto transformador.

Assim como sugerimos em várias ocasiões, e insistiremos até o cansaço, as perguntas que se nos impõem para a transição apontam a responder: o que, quem, como e para quem produzir?

Esse é o debate em nossa América, em um mundo em crise, quando o FMI acaba de publicar suas
perspectivas econômicas para 2013 , rebaixando as projeções de 2012 e de 2013 “de 3,2% em 2012 para ALC (0,6 abaixo do que havia sido projetado em abril) e de 4% em 2013”. No informe mundial, se apontam tendências de menor crescimento para EUA, Japão e, especialmente, Europa.

Nossa região tem que continuar produzindo para esse mundo capitalista em crise, ou gerar condições para uma ruptura no plano da economia e da produção?

Assim como afirmamos a necessidade de mudança política no plano econômico, essa orientação também deve constituir o desafio da integração. Cabe destacar o avanço da Unasul e da Celac, mas estão desafiados na atualidade a se constituírem em mecanismos de articulação produtiva para contribuir para a transição da hegemonia capitalista na direção de uma nova ordem.

Claro que é preciso ter consciência que estão em curso projetos diferenciados, e mesmo contraditórios, na região. Por isso, enfatizamos a importância do triunfo democrático para um novo período de governo de Hugo Chávez e seu projeto de revolução bolivariana para o socialismo.


La Paz, 13 de outubro de 2012.

Tradução: Katarina Peixoto

segunda-feira, 22 de outubro de 2012


PROGRAMA DO VII ENEJAC EM FOZ DO IGUAÇU NO PERÍODO DE 07 A 11 DE NOVEMBRO DE 2012


Dia 7
15h Entrada no hotel
Recepção e credenciamento
Acomodação nos quartos
19h Janta
20h Boas Vindas /Abertura do Evento.
Apresentação dos participantes a ser feita
por um representante de cada estado ou pais.
Apresentação do programa
Dia 8
7h Café da manhã
8h Saída para Visita a Itaipu Binacional e Marco das três Fronteiras
12h Almoço no hotel
15h Mística
16h Mesa redonda com um representante de cada país sobre
“Como é percebida a Integração Latino-americana?”
(10 minutos por representante de cada país)
17h Cafezinho
17h15 Conferência sobre "Integração Latino-americana, história, avanços e desafios"
Debate, e conclusão
20h Janta
Noite Livre
Dia 9
7h Café da manhã
8h Saída para visita as Cataratas do Iguaçu e Parque das Aves.
13h Almoço no hotel
16h Cafezinho
16h15 Palestra: "Os Movimentos Sociais na Integração Latino-americana"
Debate
19h Informações sobre o Movimento MIJARC, na atualidade.
Comunicação de livros publicados ou a publicar sobre o trabalho
do Movimento, nos diferentes países Latino-americanos
20h Janta
Dia 10 Livre
7h Café da manhã
Este dia não terá atividades programadas para o grande grupo.
Cada grupo ou pessoa optará por programa de seu interesse.
No hotel serão servidas às refeições normalmente: café da manhã, almoço, cafezinho e janta.
Sugestões para o dia - Ir a:
Ciudad del Este (Paraguay) a compras.
Conhecer a cidade de Puerto Iguazú (Argentina) e tomar um delicioso vinho com umas riquíssimas
"empanadas criollas".
(os custos destes passeios não estão incluídos no pacote)
OU
Organizar grupos para debater temas de interesse comum.
(Conversar, rir, cantar, saber da vida dos amigos, olhar DVDS sobre temas de debates atuais, etc...)
20h Janta
21h Confraternização - Noite de Integração Cultural Latino-Americana
Dia 11
7h Café da manhã
8h Avaliação do encontro
Propostas para o VIII ENEJAC
Missa de encerramento
12h Desocupar os quartos
12h Almoço e partida

CATARATAS DO IGUAÇU: OITAVA MARAVILHA DO MUNDO

Foz do Iguaçu
Uma vista da cidade de Foz do
Iguaçu e em seguida fotos
das Cataratas do Iguaçu, a
oitava maravilha do mundo
 
Foz do Iguaçu
Foz do Iguaçu
Foz do Iguaçu

domingo, 14 de outubro de 2012

A IGREJA CATÓLICA E A LUTA PELA TERRA NO BRASIL
INTRODUÇÃO
“A terra é minha e vóis sois como migrantes e posseiros”(Lv 25,23)
Focalizando as lutas dos trabalhadores rurais e suas relações com as igrejas2 e a fé religiosa,
observam-se que existe um laço histórico envolvendo estes atores sociais, como nas conhecidas lutas deCanudos e Contestado, nas quais o viés religioso e messiânico foi bastante presente na tentativa de
construção de sociedades locais, com regras próprias, rústicas e questionadoras do poder central. Mas
estas lutas, impulsionadas pela fé religiosa e necessidades materiais, passaram por fora das igrejas
institucionalizadas, principalmente a Igreja Católica.
Enquanto instituição, a Igreja esteve presente em grande parte das lutas sociais, quase sempre
ao lado do poder dominante. Mas também, ao longo da história, as contradições sociais levaram
conflitos para o interior da Igreja. Para este estudo, o recorte será feito meados do século, pois este
estudo pretende focalizar os períodos mais recentes das lutas pela terra no Brasil.
A Igreja Católica e a terra no Brasil contemporâneo: pré-64 e o período militar.
Em setembro de 1950, a Igreja Católica torna público o seu primeiro documento discutindo a
questão da terra no Brasil. Foi um documento elaborado por Dom Inocêncio Engelke3 -Bispo de
campanha – MG-e apresentada na Primeira Semana Ruralista. Dizia o documento que a Igreja já havia perdido os operários e não poderia perder os camponeses. Este documento descreve a situação de pobreza a que os camponeses estavam submetidos e incita a Igreja para que ela lidere um grande
movimento para melhorar a vida destes trabalhadores, pois, do contrário, estas pessoas poderiam ser
“vítimas de revolucionários” (BALDUÍNO, 2006).
Em setembro de 1954, na II Assembléia Geral da CNBB, realizada em Aparecida, São Paulo, a
problemática da terra foi debatida e divulgada em novo documento, no qual há a defesa da reforma
agrária. Mas esta defesa é sempre apresentada como uma proposta moderada, gradativa e palatável
aos setores dominantes. Defende, por exemplo, que a responsabilidade pela reforma agrária seria tanto do setor privado quanto do público. Ou seja, os setores latifundiários deveriam participar da reforma agrária tanto quanto o Estado.
Em outubro de 1961, a CNBB convoca uma reunião extraordinária para debater a reforma
agrária, na qual defende a modernização e desenvolvimento do campo. Pede o empenho da “Ação
Católica Rural, da Juventude Agrária Católica (JAC) e da Liga Agrária Católica (LAC), para que estes movimentos religiosos se engajem nos problemas do homem do campo”. Defende a sindicalização rural e o uso dos radio transmissores na divulgação das ações da JAC para apoiar a sindicalização rural, numa forma de se contrapor às Ligas Camponesas e ao comunismo (BALDUÍNO, 2006).
Deve-se salientar que neste período pré-64, as Ligas camponesas estão bastante atuantes no
Nordeste brasileiro, a Revolução cubana amedrontava setores do clero e a disputa pelo controle de
organizações camponesas por parte da Igreja e pelos comunistas era bastante presente.
Deve-se salientar que, contraditoriamente com estas posições da cúpula da Igreja, as Ligas
Camponesas tiveram, nas diversas religiões, um elemento impulsionador das lutas e, neste sentido,
foram diversas as ações concretas em que comunistas católicos e evangélicos de esquerda, distante das discussões hierárquicas da Igreja, aproximaram-se no apoio à reforma agrária e as lutas dos assalariados e camponeses.
NOVAES (1997) destaca que o advogado Francisco Julião, uma das lideranças das Ligas, já
apontava a importância da Bíblia -junto com o Código Civil-, para a mobilização dos trabalhadores do campo. Julião, que se declarava marxista-cristão, termo que será incorporado posteriormente, ao fim daditadura militar, por muitos militantes políticos oriundos das comunidades de base da Igreja Católica,citava, em seus discursos, Mao Tse Tung e Fidel Castro junto com diversos santos e doutores da Igreja.Este ecletismo será, posteriormente, assumido também pelo Movimento Sem Terra – MST - . Julião, que se dizia ecumênico, aproximou-se dos protestantes, com o fim de mobilizar
trabalhadores rurais, pois dizia que, pelo fato de serem pobres e protestantes, eles eram duplamente
oprimidos. Crítico das posições conservadoras da Igreja Católica, Julião,porém, apreciava o catolicismo popular e utilizava símbolos e imagens religiosas para a organização e mobilização das Ligas Camponesas. NOVAES (1997), em seu livro, também apresenta os casos de João Pedro Teixeira4, líder camponês, “crente” e acusado de ser “comunista” e do padre Alípio, engajado na luta pela reforma agrária. Porém, todos estes casos passavam “por fora” da estrutura das Igrejas.
Mas no seio da hierarquia da Igreja Católica havia o medo do comunismo, o que levou a que
diversos setores conservadores desta Igreja, inclusive através de documento oficial da CNBB, apoiassemo “Golpe Militar de 1964”.
Para os militares, a questão da terra representava a “segurança nacional”, pois um dos principais
argumentos para o golpe militar haviam sido a contenção do “avanço do comunismo”, que era
representado na época pela “influência soviética” e a Revolução Cubana. E, a simples menção da defesa da reforma agrária pelos movimentos de trabalhadores já era considerada, pelos militares, uma
proposta “comunista”, que colocava em risco o “direito de propriedade”. Assim, abateu-se sobre as
organizações de  trabalhadores do campo uma forte repressão, com a intervenções em sindicatos,
Federações, Confederações e nas Ligas Camponesas. O movimento sindical conseguiu sobreviver à
ditadura através de políticas negociadas e possíveis para o momento, principalmente por parte da
Confederação dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG-.
No poder, os militares aprovam um estatuto legal fundamental para a reforma agrária, o
“Estatuto da Terra”. Porém, na prática, visando evitar conflitos com os latifundiários, não realizam nem a reforma agrária prevista no Estatuto que eles apoiaram, preferindo investir em “programas de
desenvolvimento na Amazônia”, “frentes agrícolas no Centro-Oeste” e na “modernização da
agricultura”, gerando, com estas políticas, uma forte migração para as áreas citadas e para os centros
urbanos.
A redemocratização e a nova postura a Igreja católica.
Porém, com o desenrolar do período ditatorial e com o fim do chamado “milagre econômico”,
em meados dos anos 1970, os militares gradativamente foram perdendo o apoio popular que
desfrutavam junto a diversos setores sociais, principalmente junto à classe média. A crise do “milagre”, que abateu a prosperidade econômica a partir de meados dos anos 1970, motivou a que sociedade política oposicionista voltasse a se nos manifestar diversos movimentos sociais, sindicais e políticos que surgem no período.
Também a Igreja Católica, através de documentos da  CNBB, passa a fazer críticas ao modelo
ditatorial em vigor e assume a defesa de diversas lutas populares, entre elas a defesa da reforma
agrária. Se em 1964, a cúpula da Igreja católica apoiava o golpe militar que, na avaliação desta cúpula, teria salvado o Brasil do comunismo, gradativamente, começa a se afastar dos governos militares e, impulsionada pela Conferência de Medellín, passa a realizar críticas aos governos militares.
Neste novo quadro, em 1971, Dom Pedro Casaldáliga, bispo de São Félix do Araguaia, divulga
documento colocando a Igreja ao lado dos trabalhadores do campo. Em 1973, Dom José Maria Pires,
Bispo de João Pessoa e Dom Antônio Fragoso, Bispo de Crateús, divulgam documento de apoio aos trabalhadores do campo. Os apoios passam a crescer  e a cúpula da Igreja é instada a se posicionar.
Assim, em 1975, em Goiânia, é realizado um Encontro de Bispos e prelados da Amazônia. Este Encontro é de fundamental importância, pois é aprovado um documento apoiando a criação de uma “Comissão de Terras”, ligado a CNBB (BALDUÍNO, 2006).
Logo, em 1975, em conseqüência do Encontro anterior, é criada a ecumênica Comissão Pastoral
da Terra _CPT_, reconhecida pela CNBB e com hegemonia católica que, defendendo a reforma agrária, articulando as Pastorais Rurais e encontros de trabalhadores e assessores, publicando cartilhas e denunciando a violência no campo, firmou-se como uma instituição de apoio aos movimentos sociais do campo. Desta forma, tanto pelo apoio hierárquico como pelo trabalho “de base”, desenvolvido pelos agentes da CPT, a Igreja torna-se uma instituição que, com todas as suas contradições, passa a apoiar as lutas dos trabalhadores do campo e a reforma agrária durante o período militar.
Dom Tomás BALDUÍNO, analisando o papel das comunidades de base surgidas no período, diz
que uma de suas marcas era a mobilização para lutar por escolas, postos de saúde ou por terra pois,
sendo grupos de fé e de reflexão, estavam na perspectiva do Reino de Deus e não apenas numa
perspectiva eclesiástica para “criar mais uma capela ou uma confraria”:
Para Dom Tomás Balduíno, estas lutas fortaleceram as Cebs, que continuaram a ser locais de
reflexão e comunhão, pois caminhavam junto com diversos outros movimentos sociais do povo pobre e, para Dom Tomás Balduíno, isto seria o crescimento do Reino de Deus para que os povos adquiram
dignidade, justiça, bemestar e sejam participantes  da vida social e política. Este seria o sentido da
libertação que Jesus havia anunciado.
Este novo posicionamento da Igreja Católica é fundamental, pois esta não só passa a apoiar a
reforma agrária e a luta pela terra como também se imiscui nesta luta. As comunidades de base passam a ser um local onde as lutas sociais germinavam, gerando novas lideranças e ações práticas na luta pela terra.
Assim, em 1980, na 18º Assembléia do CNBB, a terra torna-se o tema central da Assembléia e um documento intitulado “Igreja e Problemas da Terra” é aprovado. Este documento, de apoio às lutas dos trabalhadores do campo, demonstra o novo posicionamento da Igreja perante a reforma agrária. Desde então, a Igreja e a ação da CPT ensejarão a formação de importantes lideranças e mesmo na criação de novos movimentos sociais, como aqueles baseados nas ocupações de terras que darão a base ao MST.
Fonte: http://www.cprepmauss.com.br