sexta-feira, 23 de maio de 2008

INTERAGINDO

E-MAIL RECEBIDO DE CORDEIRO - FORTALEZA/CE ,
COM UM TEXTO E FOTOS DE DOM HELDER CÂMARA
Prezado José Alaí,
Agradeço outra vez pelo envio do NOVOBLOG, sempre atento, sempre bom de ler.
Gostei muito do contato com Camilo; seu convite foi para mim um puxão de orelhas. Daria para repassar o e-mail do Camilo?
A propósito do local do Encontro, envio um dos poemas de Dom Helder Câmara "Verbos Prediletos". Gosto de ler/reler Dom Helder. Muita saudade! Muita esperança! Mas fique à vontade, pois não sei se haverá espaço suficiente... Seguem também três opções de fotografias de Dom Hélder.
Pergunto se não haveria possibilidade de uma pessoa ligada a Dom Helder, à época (Padre Reginaldo?) refletir com os participantes sobre o tema "O pensamento de Dom Helder para os novos tempos". A programação já está fechada?
UM abraço.
José Cordeiro

Prezado Cordeiro,
Este espaço é nosso. Disponha sempre! Achei muito oportuna a sua colaboração. Quanto a programação do encontro : já está fechada, mas acho que poderá ser encontrado um espaço para acatar a sua sugestão. Vou te mandar o e-mail do Camilo. Contamos com você e Pio no ENEJAC. Um abraço. José Alaí.

Verbos Prediletos

Dom Hélder Câmara[1]


Há verbos, que jamais devemos conjugar.
Um exemplo fácil de entender: jamais conjuguemos o verbo odiar.
Deus é Amor!
O ódio é o anti-Amor.
... é o anti-Deus.
Como odiar, se o ódio nos afasta de Deus.
E, além do mais, o ódio envenena a nossa vida. Faz mal, não só à nossa vida espiritual, mas à nossa própria saúde física.

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Outro verbo horrível, que não deve existir para nós, é sobrar.
As pessoas idosas ou enfermas têm a tentação de achar, que estão sobrando.
A impressão de sobrar faz um mal terrível!
Quem se une a Deus, não sobra nunca!
Não é inútil, nunca!
Unida a Cristo, a criatura aparentemente mais inútil, ajuda o mundo inteiro, enviando, à distância e de modo anônimo, a quem está a um palmo do desespero, coragem, fé, esperança e amor.
Verbo anti-cristão, e do qual devemos querer distância, é intrigar.
Já o verbo dividir, se é com o sentido de intrigar, é péssimo!
Mas há um dividir abençoado, repartir. Não guardar só para si, não se fechar no egoísmo.
Julgar é verbo que nos escapa. Cristo avisou que não podemos julgar. E não adianta dizer que não julgamos… Não podemos evitar ver. Não julgamos, mas vemos. E o que é que vemos?
Vemos a fachada!
Vemos a cara e não vemos o coração.
Perdoar supõe que tenhamos julgado e condenado.
Claro que o ideal seria nem julgar nem condenar.
Mas é evidente, que se nos metemos a julgar, é grande e belo perdoar.
Perdoar e esquecer, pois quem não esquece – quem guarda -, não perdoou de verdade.

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Verbo lindo, lindíssimo, que muitos pensam que sabem conjugar, e raro conjuga de verdade,
é dialogar.

Quantas vezes duas pessoas dão a impressão de estar dialogando e apenas estão em monólogos paralelos.
Quando uma pessoa fala, a outra nem escuta direito. Fica só aguardando a brecha pra falar, sem também ser muito ouvida.

Um dos verbos mais humanos, mais profundos e mais necessários à paz do mundo,
é compreender.
Na oração de São Francisco chegamos a pedir, “Ó mestre, fazei que eu procure mais, compreender do que ser compreendido!”.
Nós todos gostamos de ser bem compreendidos.
Como ganharíamos em passar por este mundo, compreendendo.
Quanto mais se alargar a nossa compreensão,
Quanto menos limites cortem o caminho da nossa compreensão, mais perto estaremos de grande paz interior.

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Amar é o verbo em que Cristo resumiu todos os nossos deveres como criaturas humanas e filhos de Deus.
Em passar por este mundo, amando a Deus e amando o próximo,
Quem passar por este mundo amando, mas amando de verdade, é santo, é santa.
Santo Agostinho chegou a dizer: ama e faz o que quiseres.
Claro que o santo se referiu ao verdadeiro amor. E quantas vezes a pessoa pensa que ama, e apenas se ama.

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Repararam na caminhada linda que há dentro do verbo rezar?
Há quem só saiba rezar para pedir.
Deus nos entende. Ele nos conhece mais do que nós nos conhecemos. Ele sabe como somos frágeis e necessitados de ajuda. Só que alguns quando pedem, sem nem saber ao certo o que pedem (vemos tão pouco e tão mal!…), pedem exigindo. E ai de Deus se não der o que eles ou elas pedem. Rompem com Deus.

Pedir, sim. Mas deixando a decisão final a Deus que é Pai, e que mesmo quando parece distante, sem vermos nem ouvirmos…

Mesmo quando na aparência não nos atende, nunca deixa sem resposta um grito que venha do mais íntimo do nosso íntimo.

Mas rezar é também pedir perdão. E quem não precisa de perdão e misericórdia?!…
Rezar é também agradecer. E são tão poucos os que se lembram de agradecer. Mas rezar adquire toda sua grandeza e beleza quando rezar é também adorar.

EXPERIMENTE PROCURAR LUGARES CALMOS, SOLITÁRIOS E BELOS!
EXPERIMENTE CHEGAR EM HORAS COMO MADRUGADA E POR-DO-SOL!

EXPERIMENTE COLOCAR-SE DIANTE DE DEUS E DIZER-LHE COM A MAIOR SINCERIDADE: PAI! NÃO VENHO LHE PEDIR NADA! VENHO APENAS DIZER QUE VIBRO DE ALEGRIA PORQUE TU EXISTES E ÉS DEUS, E ÉS PAI! ISTO É ADORAR.

[1] Dom Hélder, pastor e profeta, defensor dos direitos humanos, foi ordenado padre no dia 15 de agosto de 1931, em Fortaleza. Foi nomeado bispo auxiliar do Rio de Janeiro no dia 3 de março de 1952, foi ordenado bispo, aos 43 anos de idade, no dia 20 de abril de 1952, pelas mãos de Dom Jaime Cardeal de Barros Câmara, Dom Rosalvo Costa Rego, Dom Jorge Marcos de Oliveira. No dia 12 de março de 1964 foi designado para ser arcebispo de Olinda e Recife, Pernambuco, múnus que exerceu até 2 de abril de 1985. Faleceu a 28 de agosto de 1999 em Recife.