terça-feira, 11 de setembro de 2012

Morreu o profeta do semiárido




RobertoMalvezzi (Gogó)

D. José JoséRodrigues foi o homem certo, no lugar certo, na hora certa. Quando chegou aJuazeiro para ser bispo, a barragem de Sobradinho estava em construção. Então,ele assumiu a sorte dos relocados, depois dos pobres em geral e nunca mudou.Chegou em 1975.

Aqui era áreade segurança nacional, regime militar, ACM governador, prefeitos nomeados pelopresidente da república. Não havia partidos, nem organizações populares. Então,com poucos padres e religiosas, chamou leigos para apoiar os 72 mi relocados.Assim, a diocese foi durante muito tempo o abrigo para cristãos, comunistas,ateus, qualquer um que movido pela justiça assumisse a causa do povo.

Depoisenfrentou o período das longas secas. Criou pastorais populares. Fez o opçãoradical pelos pobres e comunidades eclesiais de base. Usava as rádios e seupoder de comunicação para defender os oprimidos pelo peso dos coronéis e doregime militar.

Quando umgerente do Banco do Brasil foi seqüestrado, ele aceitou ser trocado. Ficou soba mira dos revólveres por dias, começando sobre a ponte que liga Juazeiro aPetrolina. Depois visitou seus seqüestradores na cadeia e ainda fez o casamentode um deles.

Abrigou nadiocese toda convivência com o semiárido, muito lembrado nesses tempos deestiagem. Por isso, quando a ASA fez um de seus encontros nacionais, quisfazê-lo em Juazeiro para homenagear esse profeta do semiárido. 

Costumavacontar que recebeu muitos presentes quando chegou e foi reverenciado pelaelite. No terceiro ano ganhou três camisas. No quinto ano ganhou de presenteuma única camisa dada por uma prostituta que freqüentava a escola Senhor doBonfim, trabalho feito junto às prostitutas da cidade. 

Quando foiembora saiu com toda a mudança que trouxe: uma mala que cabia uma muda deroupas – que ele lavava todas as noites para vestir no dia seguinte– e seu livro de oração.

Na celebraçãode despedida afirmou na catedral: “nunca trai os pobres, nem em época deeleição”.

D. Joséfaleceu nessa madrugada, dia 9 de Setembro, em Goiânia, comunidade redentoristade Trindade, para onde foi depois de 28 anos em Juazeiro. 

Seu corpo serátransladado para Juazeiro na segunda-feira, onde será enterrado. Aqui, suamemória jamais será esquecida por aqueles que com ele conviveram, sobretudo,pelos em situação de pobreza, nos corações dos quais ele reside.